Eis que chegaram as primeiras chuvas e ainda não tinha documentado as férias de Verão na Costa Vicentina.
O regresso ao trabalho já se fez, evitando ainda calças e casacos pois o abandono do Verão custa sempre horrores e tudo o que cheire mais a Outono é categoricamente evitado. Mas a chuva dita o fecho de um ciclo. Resta-nos esperar por um 5 de Outubro e um verão de São Martinho que nos aqueça a alma antes da derradeira abertura de comportas do S. Pedro!
As tão aguardadas férias de Verão aconteceram entre os últimos dias de Agosto e os primeiros de Setembro. Este ano de 2020 tem sido um ano de superação e resiliência e, por isso, sair de uma rotina que entretanto se instalou, muito mais circunscrita, mais tristonha, rumo à liberdade e tranquilidade que se respira na Costa Vicentina, foi um bálsamo para a alma! Apesar das mudanças e de algumas zonas que já começam a estar mais populadas e exploradas, esta costa ainda continua a ser um destino algo alternativo, com muitos pontos fora dos roteiros mais massificados. E nós adoramos isso!
Vou mostrar aqui as praias que visitámos e outros pontos e partilhar alguns comes e bebes daqueles de chorar por mais! 🙂
O poiso foi Aljezur, especificamente na Arrifana mas rodámos por ali à volta e até mais longe, como sempre, para podermos usufruir o máximo possível da curta semana, matando saudades de outros poisos que já não visitávamos há algum tempo e conhecendo novos!
Aljezur é um município pertencente ao distrito de Faro, que tem por sede a vila de Aljezur. É limitado a norte pelo município de Odemira, a leste por Monchique, a sueste por Lagos, a sudoeste por Vila do Bispo e a oeste tem uma extensa costa com o oceano Atlântico. O limite noroeste, com o concelho de Odemira, é marcado pela Ribeira de Seixe que confere uma enorme magia à praia de Odeceixe, mas já lá vamos! O litoral do município faz portanto parte do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Não fizemos nenhuma incursão à zona histórica de Aljezur pois já cá estivemos outrora e já conhecíamos.
Na Arrifana, ficámos num alojamento particular com um jardinzinho simpático onde pude fazer a minha yoga e meditação matinais. Nesta zona, desconheço que existam hotéis (ainda bem!) mas existem muitos turismos rurais, e também muitas casas particulares para arrendar.
A localidade da Arrifana conta com a sua bela praia com o mesmo nome.
A praia tem bandeira azul e um areal muito generoso que se estende por mais de 500 m. Na sua extremidade sul situa-se dentro de água uma rocha conhecida como a Pedra da Agulha, devido à sua forma vertical. Quando a maré desce, deixa a descoberta mais um pouquinho de areal conhecido por praia da Pedra da Agulha, precisamente.
A praia da Arrifana fica no fundo de uma enseada protegida por altas escarpas e é um dos “postais ilustrados” desta região – o casario da aldeia desce, pela encosta, quase até ao mar. É uma praia muito conhecida pelos surfistas que vêm de todo o mundo.
No dia que chegámos, já pelo meio da tarde, fomos até lá para descansar um pouco das 4 horas e qualquer coisa de viagem. Estava um dia um pouco ventoso mas a configuração da praia faz com que no areal não se sinta tanto o vento. Aproveitámos o resto do dia para ir até à vila fazer algumas compras e descansar.
O dia seguinte levou-nos à Praia da Amoreira, que, por incrível que pareça, com tanto quilómetro que tenho feito ao longo desta costa, ainda não conhecia! O primeiro impacto foi “wow” e logo ali decidimos que esta seria a Praia das Férias 2020!
De Aljezur à Amoreira são cerca de 20 minutos. Depois de cortar da estrada principal para a praia, a estrada não é fabulosa mas faz-se bem. O entorno é maravilhoso, uma natureza ainda muito selvagem, com aquele cheiro tão característico dos arbustos e plantas desta zona. Pelo caminho é possível apreciar o sapal que a ribeira proporciona.
Antes de ir, convém perceber o trajeto pois se colocarem no GPS muito possivelmente vão dar a um ponto indicado como Praia da Amoreira mas que culmina mesmo junto à Ribeira da Amoreira, ou seja, o lado oposto à entrada “oficial” da praia. Os passadiços existentes confluem sempre numa plataforma que funciona como miradouro. Podem sempre saltar para a água se a corrente permitir e atravessar se já tiverem o fato de banho posto ( e não tiverem muita tralha convosco, o que acho mais difícil :P)
Esta praia, tem portanto, uma frente de mar e uma frente fluvial, tal como Odeceixe.
A foz da Ribeira de Aljezur cria um pequeno estuário onde o mar se encontra com a Ribeira e que confere a esta praia uma paisagem belíssima! O extenso areal dá lugar a uma enorme extensão de dunas, habitat de muitas espécies.
Nesta praia existe um restaurante/ snack bar e é possível alugar pranchas de padel e de surf. Nos dias mais ventosos ou em que o mar esteja mais revolto, basta dar a volta à duna e ficar do lado da ribeira para ter um dia de praia em perfeito sossego!
Claro que tivemos de repetir!
No dia seguinte, fomos ao centro de Aljezur logo pela manhã para irmos ao mercado buscar peixe fresco. Aproveitamos um pouco mais do jardim e da piscina da casa e pela tarde, voltámos à Arrifana mesmo ali ao lado.
Ao final da tarde pegámos no carro e fomos dar uma volta pelas redondezas. Na passagem pelo Monte Clérigo – onde também existe um praia óptima mas um pouco mais descoberta e que em dias de vento não é tão agradável – descobrimos um restaurante/café que tinha uma montra de doces daquelas de morrer, com bolos de variados tipos mas a maior parte típicos desta região com ingredientes que nós adoramos: alfarroba, mel, amêndoas, figo, etc.. Como já tínhamos decidido jantar por casa, levamos daqui a sobremesa! De chorar por mais!! Vale a pena ir adoçar o palato à Rede.
No dia seguinte, o dia acordou nublado e convidava pouco à praia. Assim, decidimos ir mais para o interior conhecer Monchique e dar um saltinho ao Alentejo onde não posso nunca deixar de ir. Parte do meu coração, sabe-se lá porquê, vive no Alentejo interior.
No caminho, passamos por umas paragens de autocarro lindíssimas, pintadas à mão e assinadas por Meire Gomes. Parabéns à artista e à CMMonchique pela iniciativa.
Chegados a Monchique, parámos para um passeio de reconhecimento a pé e eis que descobrimos o Studio Bongard. Uma agradável surpresa que adorámos conhecer! Trata-se de uma loja e “galeria” ao ar livre do artista plástico Sylvain Bongard e sua esposa Tara. Ambos fazem esculturas em cerâmica absolutamente fantásticas que decoram um lindo jardim que se pode visitar. Deixo aqui alguns exemplos do que é possível ver e, claro, também comprar!
Para visitar: Bongard Gallery, Sitio do Pomar Velho, Monchique. GPS: 37°19’04.6″N 8°33’32.7″W
Após esta agradável surpresa, fomos almoçar. O poiso escolhido – e muito bem escolhido! – foi o restaurante A Charrete. Fica bem no centro de Monchique e trata-se de um local muito tradicional, tanto em apresentação como em carta. Fomos muito bem recebidos e atendidos. A bochecha de porco desfazia-se na boca e os milhos estavam soberbos! Sobremesa típica não podia falta, o difícil foi escolher!
Para desmoer o almoço, rumámos ao ponto mais alto de Monchique e de todo o Algarve, a Fóia. A vista é incrível e como estava um dia razoavelmente límpido, é possível avistar o oceano e ver todo o recorte da costa ao longe. à frente, virados para Sul temos Portimão.
Rodando para a nossa direita, avistamos Aljezur!
Em seguida e porque um dia de férias de Verão sem banhos não conta, fomos a banhos à praia fluvial da barragem de Santa Clara que já pertence a Odemira. A estrada de Monchique até à barragem é chatinha, com muitas curvas mas vale pela paisagem.
A albufeira de Santa Clara Junto fica junto à aldeia de Santa Clara-a-Velha, e é uma das maiores albufeiras da Europa. Oferece uma zona balnear, com uma plataforma flutuante e zona de lazer. Tem nadador-salvador, balneários e mesas à sombra para quem quiser fazer piquenique. O “areal” não é muito confortável e o acesso à água fora da plataforma convém algum cuidado caso não se tenha uns chinelos ou uns sapatinhos de água à mão mas, uma vez dentro de água, é possível desfrutar de um belo banho em água límpida rodeados de um silêncio maravilhoso!
De volta a Aljezur e depois de uma banhoca, o jantar foi na Cervejaria Mar. Alguma desorganização do serviço à parte, foi um belo jantar! Já há muito tempo que não encontrávamos um arroz de marisco tão bem servido. Embora não seja possível ver ao pormenor, o arroz vinha realmente muito bem servido de diferentes tipos de camarão, lavagante e sapateira e estava bem aromatizado. Aconselhámos a visita e aqui fica o registo para abrir o apetite!
Para recuperarmos de tanto passeio, o dia seguinte foi feito mais pela Arrifana, preenchido por nova ida ao mercado de Aljezur pela manhã, uma bela sardinhada no jardim e uns caracóis ao lanche, depois de uma excelente tarde de praia, numa esplanada no centro de Aljezur, mesmo juntinho à igreja.
No dia seguinte, como não podia deixar de ser, fomos matar saudades de Odeceixe! A pequena vila é deliciosa com as suas casinhas brancas e azuis aqui, brancas e amarelas acolá. Ao cimo, a Igreja Matriz da Nossa Senhora da Piedade e o moinho. No centro, não houve grandes mudanças nos últimos anos. Encontra-se mais um ou dois restaurantes mas está tudo muito semelhante aos anos mais recentes. Não posso deixar de referir uma grande perda: o café Romeu fechou! Nunca na vida comi tostas em pão alentejano tão boas como aquelas do Romeu! O serviço nunca foi o ex-líbris da casa mas cada dentada naquelas tostas valia as secas de espera! O Romeu vai sempre trazer-me memórias de momentos felizes e descontraídos, passados em muitas férias, na juventude, com amigos. Fiquei realmente triste por não poder mais uma vez repetir.
Para podermos aproveitar bem o dia, levamos lancheira. Assim, chegados à praia pudemos aproveitar bem o que esta oferece: o mar, a ribeira, a paisagem, a tranquilidade, boas leituras e sonecas. Esta praia, tal como a da Amoreira, permite usufruir de banhos de mar e de banhos de rio ou , neste caso, de ribeira que é a de Seixe, que faz fronteira natural com o Alentejo.
A praia de Odeceixe é bandeira azul e foi considerada umas das 7 maravilhas de Portugal.
Com as férias mesmo a terminar, faltava dar aquele saltinho à Zambujeira só para ver se estava tudo no sítio. O centro da vila estava bem animado e o comércio bem vivo também. Afinal, é preciso aproveitar enquanto possível pois o período de Verão que é o que traz mais gente à região é curtinho.
Deu para uma cervejinha e para apreciar um lindo pôr do sol.
Diz a música que não devemos voltar a um sítio onde já fomos felizes. Eu já fui muito feliz, em diversas e diferentes alturas da minha vida, nas mais diversas paragens da Costa Vicentina e é sempre bom voltar. Até para o ano, Verão!